A depressão infantil não é algo fácil de se diagnosticar, o que pode vir a se tornar um grande problema. Normalmente, os sintomas ganham destaque isoladamente, e não como parte de algo maior, dificultando a identificação para os pais e alguns profissionais. Isso acontece, também, devido ao fato de algumas crianças e adolescentes não conseguirem expressar, identificar ou nomear de maneira clara o que se passa com elas. Acabam se queixando de problemas pontuais e que são facilmente ligados à outros quadros que não o da depressão.
Outra grande dificuldade é que o quadro de depressão em crianças/adolescentes traz comorbidades (associação de pelo menos duas patologias num mesmo paciente) que mascaram alguns sintomas. Exemplos de comorbidades mais comuns são: TDAH, TOC, distúrbios do sono, transtorno de conduta, transtorno desafiador opositivo, transtorno de ansiedade (normalmente ansiedade social) e transtorno alimentar (mais comum entre adolescentes).
SINTOMAS EM CRIANÇAS DE 0-6 ANOS:
Os sintomas da depressão infantil em crianças até 6 anos têm maior manifestação clínica com sintomas físicos. Dores na cabeça e região abdominal tonturas enjoos e fadiga estão entre os mais comuns. Outros sintomas que podem seguir aos físicos são :
Dificuldade nas ações sociais próprias da idade;
Diminuição do brincar (a criança perde a vontade de brincar e tem alterada, também, sua capacidade de socialização, não conseguindo ou não querendo buscar/aceitar outras crianças);
Ansiedade;
Alteração de apetite (comendo muito ou negando alimentação) e no peso;
Alteração no sono (dormindo muito ou tendo insônia);
Alteração motora (gestos repetitivos, movimentos lentificados, hiperatividade);
Irritabilidade excessiva;
Fobias (medo excessivo, persistente e desadaptativo relacionado a um determinado objeto ou situação);
Heteroagressão (agredir os outros, agressão externa a criança) ou Autoagressão (morderse, arrancar cabelos, bater com a cabeça na parede, usar objetos para se ferir…), sendo ambas de raro acontecimento;
SINTOMAS EM CRIANÇAS DE 7-12 ANOS:
Em crianças escolares de 7 até 12 anos , a depressão ocorre de maneira semelhante. Entretanto, como o cognitivo já está mais desenvolvido, a criança nesta faixa já consegue relatar a existência de uma tristeza, e quase sempre é assim que descreve sua depressão. É comum, ainda, que tragam sentimento de tédio. Os sintomas da idade préescolar permanecem e outros se adaptam à nova realidade correspondente à idade. Sendo assim, além dos já citados, podemos nos basear nos seguintes sintomas:
Choro fácil;
Tristeza frequente (inclusive aparentemente);
Fadiga (falta de vontade de fazer o que sempre gostou, cansaço sem justificativa, em alguns casos dores pelo corpo);
Insegurança, sentimento de inadequação, baixa autoestima (crianças que relatam que ninguém gosta delas, crianças que perguntam muito aos pais se eles a amam ou se eles a abandonarão, crianças que se acham feias…);
Isolamento ou relações fracas (relacionado ao tópico anterior);
Rendimento escolar fraco;
Não consegue achar graça nas atividades propostas ou perde o interesse por coisas que sempre foram de seu interesse;
Ansiedade de separação;
Fobias;
Ideias de morte (vontade de morrer, pensamentos sobre como o mundo seria sem ela, comportamentos que a ponha em risco).
Cabe ressaltar que, para podermos levantar a suspeita de depressão, é preciso observar o contexto em que a criança se encontra e a quantidade de sintomas apresentados. O quadro de depressão se caracteriza pela presença de pelo menos quatro dos sintomas citados. Além do contexto social, o fator genético é de grande importância, pois uma família com histórico de depressão aumenta a probabilidade dos sintomas apresentados pela criança confirmarem o quadro depressivo.
TRATAMENTO
O tratamento consiste em atendimento psicológico e, em casos mais severos, medicação. É importante que a terapia tenha um foco mais lúdico, para que a criança seja acessada mais facilmente em suas questões. O lúdico ajuda na expressão da origem do sintoma.
A IMPORTÂNCIA DOS PAIS DURANTE O TRATAMENTO
É de pouca valia colocar a criança em uma terapia individual e não trabalhar o sistema em que ela está incluída. Por isso, os pais são parte crucial do tratamento e devem estar abertos e dispostos a, também, serem trabalhados emocionalmente.
A intervenção psicológica em crianças tem respostas promissoras, principalmente quando feita na fase inicial da depressão. Quanto mais tarde se faz o diagnóstico, mais prejuízos no desenvolvimento a criança terá. Isto não significa que não há possibilidade de reversão do quadro. Esta sempre existe.
Fique atento ao que seu pequeno mostra. Ele precisa que você traduza o mundo para ele. Costuma ser muito difícil para a criança acessar e entender todas as mudanças que acontecem dentro dela. Verbalizar um pedido de ajuda pode ser tão difícil que este pedido acaba acontecendo como uma doença. Esteja sempre em contato com a escola, colha informações sobre seu filho em todas as áreas da vida dele, e na desconfiança de que algo não vai bem, busque ajuda de um profissional especializado.
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Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).
Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro
Telefone para contato: (21)98320-4159