O programa de triagem
Chamamos de escoliose, o desvio lateral da coluna vertebral com componente rotacional do corpo vertebral.
Por definição, esse desvio lateral deve ter o valor mínimo de 10 graus, quando medidos no exame de imagem.
Quando estamos diante de um pré-adolescente ou adolescente com a coluna torta é importante saber se o problema é primário da coluna ou é secundário à por exemplo, desigualdade no comprimento das pernas.
A maioria das escolioses não tem causa definida ou identificada. Por isso, tem denominação de escoliose idiopática.
As escolioses do adolescente são aquelas que surgem a partir dos 11 anos de idade.
São mais comuns em meninas onde toda atenção deve ser voltada para o diagnóstico precoce.
Nas fases iniciais da patologia, a deformidade é leve, muitas vezes, passando despercebido pelos familiares e profissionais que lidam com a criança.
Tem grande piora nas fases do estirão do crescimento da puberdade, que nas meninas, é marcado pela primeira menstruação e nos meninos, ocorre entre as idades de 13-14 anos.
Muitas famílias, são surpreendidas com o diagnóstico da escoliose em seus filhos, quando as deformidades já estão severas, dificultando o tratamento conservador ou já tendo indicação cirúrgica imediata.
O diagnóstico precoce é fundamental para evitar essa surpresa e para isso, foi desenvolvido o programa de triagem.
A preocupação médica:
A cada ano, milhares de cirurgias são realizadas no mundo, para correção de escoliose do adolescente, em pacientes com idades entre 10 a 18 anos.
A escoliose é uma patologia complexa, com impacto negativo na saúde física, psicológica e no convívio social dos indivíduos afetados.
Prevenção de escoliose severa é o principal compromisso do ortopedista que lida com a patologia.
Em 1984, programas de triagem escolar foram desenvolvidos com o objetivo de detecção precoce da deformidade em crianças nas idades de risco, onde a escoliose ainda era leve e não percebida pela família.
Os princípios do programa:
A triagem foi desenvolvida assumindo que a detecção precoce, em baixa idade e com menor deformidade, permite o início precoce do tratamento, oferecendo uma grande oportunidade em impedir a piora da deformidade, inclusive, evitando a evolução para correção cirúrgica.
A ideia inicial:
O objetivo inicial era o de atingir o maior número de crianças com um programa de avaliação em massa da população de risco para a patologia.
Seria realizado na rede de ensino pública e privada, permitindo inclusive, a oportunidade de exame físico da coluna a uma parcela da população com pouco acesso ao sistema de saúde.
A realização é bem simples, com exame físico da coluna, observando assimetria na altura dos ombros ou cintura e solicitando à criança inclinar o tronco para frente, à procura de gibosidades ou formação de corcova ou caroço nas costas.
Aquelas crianças com exame físico anormal seriam encaminhadas para o especialista para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento, quando indicado.
Os benefícios da triagem:
– Diagnóstico precoce;
– Início precoce do tratamento;
– Prevenção da progressão da escoliose;
– Reconhecimento precoce das curvas que exigem cirurgia.
O tratamento conservador:
O colete é o mais eficaz método de tratamento não operatório para a escoliose.
É eficaz em diminuir a progressão da curva além de impedir a evolução para indicação de cirurgia.
Permite controlar a progressão da escoliose, fazendo com que o indivíduo complete o crescimento com curvas abaixo dos valores de indicação cirúrgica.
O colete deve ser indicado precocemente, na dependência do tamanho da curva, pois sua indicação está diretamente relacionado ao esqueleto em crescimento.
Sabemos que, mesmo com o tratamento iniciado em idades precoces e com o colete adequado, 20 a 25% dos pacientes necessitarão de cirurgia como tratamento definitivo.
Mesmo nesses casos, o colete permite a curva chegar nas indicações cirúrgicas em melhores condições de flexibilidade, facilitando assim a correção.
Quando devemos fazer a triagem da coluna das crianças?
Nos momentos de estirão do crescimento da adolescência, as curvas tendem à piora.
A recomendação é para meninas serem submetidas a exame físico da sua coluna nas idades de 10 e 12 anos.
Para os meninos, a recomendação é para exame físico, uma vez, entre as idades de 13-14 anos.
Uma vez identificado exame físico anormal, essas crianças devem ser encaminhadas para o ortopedista pediátrico para avaliação e tratamento.
Conclusões:
Infelizmente, os programas de triagem de escoliose, não são realizados universalmente.
Argumentos de que levariam a um excesso de encaminhamentos para especialista de casos que não precisavam de tratamento, além de alegações de que elevam os custos da assistência à saúde, fizeram com que o programa fosse descontinuado em muitos países.
Essa medida fez com que se elevasse os números de pacientes com diagnóstico já em fases avançadas de deformidade, onde o único recurso terapêutico era a cirurgia.
Tratam-se de cirurgias de grande porte e com potenciais riscos em pacientes que não tiveram a oportunidade de diagnóstico precoce e tratamento conservador, simplesmente porque não foram submetidos ao cuidadoso exame físico da coluna em idade adequada.
Com as melhorias na interpretação do exame físico pelo profissional e com a solicitação de exame de imagem somente nos diagnósticos de físico anormal, provou-se a eficácia do método e hoje estamos diante de evidências que estimulam a prática da triagem de escoliose.
Minha opinião é de que sejam tomados os cuidados necessários para garantir o bom alinhamento da coluna nas idades de risco para escoliose e sou adepto do programa de triagem.
Sou favorável ao exame físico de triagem de todas as crianças nas idades recomendadas e faço como rotina, em meus pacientes, a avaliação física do alinhamento da coluna vertebral.
Fiquem atentos à coluna de seus filhos!
Um abraço a todos!
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
Consultório: Barra Life
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