O papel do ortopedista e a expectativa dos pais
O termo popularmente conhecido como anão, tem denominação médica de acondroplasia.
É a principal causa de nanismo (baixa estatura), tendo uma incidência de 1 em cada 25.000 nascimentos.
Não há predileção por raça ou sexo.
A patologia ocorre devido a uma mutação genética, portanto não é necessário história familiar positiva para o nascimento de um acondroplásico.
Famílias com estatura normal podem, esporadicamente, ter filhos anões. Por sua vez, adultos acondroplásicos podem gerar filhos com estatura normal.
As características físicas:
O exame físico é o que nos dá o diagnóstico. As crianças apresentam:
– Baixa estatura, sendo que o tronco tem tamanho normal e os membros superiores e inferiores curtos.
– Há uma desproporção tronco-membros.
– Aumento no tamanho de cabeça;
– Deformidade dos membros inferiores grosseira (pernas tortas e curtas), com predomínio do arqueamento dos joelhos;
– Deformidade em rotação interna das pernas e marcha com pés virados para dentro.
– Coluna vertebral tem hiperlordose lombar;
– Inteligência é normal.
A Consulta Ortopédica
A opinião do ortopedista é solicitado para esclarecer questões como:
– Qual o tratamento para a deformidade dos membros inferiores, joelhos arqueados e pés virados para dentro?
– Qual será a estatura final da criança na vida adulta?
– Qual será o prejuízo funcional devido ao encurtamento de braços e pernas?
– Haverá algum prejuízo na autoestima da criança com sua visão corporal?
– Será a baixa estatura um problema futuro para as oportunidades de trabalho?
Fazendo uma Reflexão
A estatura final média dos acondroplásicos varia entre 1,20m a 1,40m.
A baixa estatura extrema pode levar a impactos negativos nas relações sociais, personalidade, comportamento e físicas.
Podemos definir hoje, o que chamamos de doença da baixa estatura, onde os pacientes apresentam:
– Dificuldade nas atividades físicas;
– Distúrbio emocional por baixa autoestima;
– Dificuldade nas relações sociais. A baixa estatura associada ao encurtamento dos membros superiores leva à dificuldade para atividades básicas e simples do dia-a-dia como:
– Lavar o rosto, pentear o cabelo, levar alimento à boca, levar a mão ao períneo para fazer sua própria higiene;
– Praticar esportes;
– Dificuldade no uso de transporte público;
– Dificuldade para ser atendido em estabelecimento com balcão, prateleiras de supermercado, etc;
– Impacto negativo futuro na escolha de profissão, pois algumas atividades há exigência de estatura mínima que muitas vezes não são atingidas pelos acondroplásicos
O Ponto de Vista Psicológico
Vivemos numa sociedade estruturada para indivíduos de maior estatura. A altura representa para muitos sinônimo de força, beleza, saúde e sucesso. Portanto, do ponto de vista psicológico, a baixa estatura pode representar complexo de inferioridade, baixa auto-estima e sensação de diferença no convívio com a comunidade.
A Baixa estatura pode ser considerada uma deficiência?
Em 1981 a Organização Mundial de Saúde definiu como deficiência qualquer condição que leve a prejuízo ou dificuldade para um indivíduo exercer as funções que seriam normais para sua idade, sexo, origem cultural e social. Portanto, quando consideramos o problema da baixa estatura com todas as dificuldades citadas acima, podemos considerar a baixa estatura extrema dos acondroplásicos como uma forma de deficiência. O predomínio de cada um dos sintomas físicos, estéticos e emocionais é subjetivo e depende de cada indivíduo.
Tratamento Ortopédico
O alinhamento dos membros inferiores precisa ser corrigido para evitar o progressivo desgaste articular devido à sobrecarga mecânica do peso corporal sobre as pernas deformadas. Isso evita dor de origem degenerativa, além de melhorar a marcha, pois a torção interna da perna também é corrigida, permitindo a marcha com os pés para frente. O tratamento é cirúrgico e a técnica utilizada é conhecida como osteotomia.
Com relação à estatura, quando representa grande dificuldade para o paciente nas atividades diárias, a indicação é cirúrgica com alongamentos ósseos que são utilizados nos membros inferiores (Fêmur e Tíbia) e membro superior (Úmero).
O ganho médio de estatura obtido com a cirurgia varia de 15 a 20 cm, dependendo do número de alongamentos realizados nos membros inferiores.
A indicação deve ser feita com critério porque o tratamento exige bom entendimento da família e paciente, tempo de tratamento longo, consultas de revisão periódicas com exame clínico e de imagem e possibilidade de reinternações no curso do tratamento.
Não é um tratamento isento de complicações, porém oferece resultados recompensadores nos quesitos estético e funcional dos pacientes.
Tem impacto favorável na vida dos pacientes porque melhora a função, independência, personalidade, além de corrigir a desproporção entre tronco e membros.
Um abraço a todos!
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
Consultório: Barra Life
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