Depois de entender um pouco o conceito e o funcionamento da estereotipia, chega a grande indagação: o que fazer com ela?
Muitos pais chegam ao consultório querendo acabar com esses movimentos regulatórios de seus filhos. Em alguns casos, os pais brigam, colocam de castigo e, dessa forma, acabam intervindo fisicamente no ato regulatório da criança, impedindo que o movimento seja realizado. Essa não é a melhor forma de intervir.
Quando cortamos um comportamento repetitivo tiramos aquele “alimento” que o cérebro está “pedindo” e desorganizamos o funcionamento daquele indivíduo.
Muitos desses comportamentos regulatórios são desagradáveis para as pessoas que convivem com a criança ou com o adolescente, incomoda quem está ao redor e, por isso, muitas vezes os pais têm que ver seus filhos sofrendo preconceito de quem não entende o que está acontecendo naquele momento. Mas a conscientização social da importância desses ajustamentos para a pessoa autista é de extrema necessidade.
Alguns pais e cuidadores relatam que é muito cansativo ter que lidar com todos esses comportamentos. É normal sentir-se frustrado e cansado, mas tentar cortar esses comportamentos não irá ajudar, pois eles simplesmente, são realocados para outros comportamentos e padrões. Ou seja: a criança que se balançava, quando impedida de realizar sua regulação, vai buscar outro estímulo, que pode ser até um bater com a cabeça, por exemplo. Além de muitas vezes, a intervenção, ser percebida como algo muito ruim que causa sofrimento para a pessoa que está impossibilitada de se regular.
“Então temos que deixar as crianças fazerem seus movimentos estereotipados e auto-regulatórios sem intervir?”
De certa forma sim. A realização dos movimentos é um estímulo no qual eles precisam. Porém, grande parte das vezes, entrar nesse padrão os afasta da interação social, que, como já vimos, alimenta ainda mais o surgimento desses padrões. Precisamos ajudar as crianças a usarem esses comportamentos sem perderem a atenção social. Trabalhar no emocional de sua criança e na integração sensorial ajuda a que esses comportamentos de autoregulação possam ser usados sem que ela seja prejudicada em outras esferas. O comportamento estimulatório é realizado, muitas vezes, como defesa do organismo a algo que não está sendo possível processar. E as vezes leva a um isolamento necessário daquela pessoa. Porém, se nos alinhamos com essa pessoa e alimentarmos esse cérebro com os estímulos que ela precisa, nos aproximamos também, da chance de estarmos em contato.
Se a criança só quer saber de rodar objetos, você pode mostrar para ela que aquele peão pode ser um roda-roda para o boneco. Você também pode pegar bonecos e colocar para brincar de ciranda. Pode chamar a criança para brincar de algo que a faça rodar, mas tudo isso sempre estimulando a troca entre vocês. A gente se aproxima da vivência que aquela criança sente apresso e assim criamos possibilidades de interação sociais que lhe sejam sentidas como adequadas por ela.
Quando os comportam autorregulatórios envolvem risco a integridade física da criança ou de outras pessoas o manejo de contenção pode ser necessário. Obviamente isso é feito respeitando o que aquela pessoinha precisa e aguenta. Os estímulos de intervenção devem ser o menos invasivos possíveis e suficientemente bons para manter a segurança da criança. Principalmente se esses estímulos estiverem acontecendo em decorrência de uma crise.
Na terapia é importante procurar um profissional que não queira simplesmente cortar esse comportamento. Ao contrário, deve-se entender que essa é uma necessidade e dessa forma ajudar o paciente a descobrir como atendê-la de uma maneira justa e satisfatória. O foco da terapia não é obrigar o autista a ser igual a uma criança típica. É possibilitar que ele haja à sua maneira, dentro da sociedade em que está inserido, com qualidade e sentindo-se bem.
Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).
Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro – Brasil
Telefone para contato: (21)98320-4159
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