Você sabia que desenvolvimento motor atípico, desorientação espacial e temporal, falta de equilíbrio e mudanças bruscas de humor podem ser alguns dos sinais de dislexia? Sim, este transtorno vai além de uma dificuldade de aprendizado, podendo afetar toda a percepção de mundo do indivíduo. A ausência de tratamento pode prejudicar a vida não só escolar, mas social de seus filhos.
O que é Dislexia?
A dislexia não é uma doença e sim uma condição hereditária, com alterações genéticas e neurológicas. Uma pessoa disléxica tende a ter uma família com ¨código genético de dislexia¨. É comum haver um disléxico a cada geração. Mas não se preocupe, isso não é uma regra. Você pode ser disléxica(o) e seu/sua filho(a) não desenvolver o quadro. Muitos nascem com este ¨código genético¨ e não abrem o quadro. É como se a dislexia fosse uma semente: você pode plantá-la, mas não é certo que ela vá germinar. Se há, porém, um histórico de dislexia na família, e seu filho apresenta sintomas, as chances de confirmação do diagnóstico são significativas.
A dislexia não se desenvolve quando a criança chega na idade de alfabetização, como muitos pensam. Este mito surge pois é o período da infância no qual os sinais do transtorno ficam mais evidentes. Com três meses de vida, entretanto, um bebê já pode “funcionar de maneira disléxica”.
Como o cérebro disléxico funciona de maneira diferente do cérebro típico, as percepções deste bebê disléxico em potencial vão acontecer num rítmo diferente do usual, e isso faz com que seu desenvolvimento possa ser afetado. Repare que falo “disléxico em potencial”. Este termo pode ser aplicado, pois antes dos cinco anos de idade o diagnóstico de dislexia não pode ser fechado.
Sinais em crianças até 6 anos:
Os sinais até 6 anos são muito sutis e, grande parte das vezes, passam desapercebidos pelos pais. Para ficar mais fácil de entender os comportamentos que podem ser afetados pela dislexia, segue uma lista de sinais que podem ser apresentados neste período da infância:
– Atraso no desenvolvimento motor desde o sentar, engatinhar, andar, etc;
– Atraso ou deficiência na aquisição da fala, desde os muchochos (experimentações vocais que as crianças fazem, silabações), até tentativas de pronunciar as primeiras palavras;
– Dificuldade de compreender o que escuta;
– Distúrbios no sono;
– Chorar sem motivo aparente e tendência a parecer muito agitada;
– Suscetibilidade a alergias.
Sinais apresentados por crianças maiores de 7 anos até a idade adulta:
– Desliga-se facilmente da atividade que está realizando, em alguns casos parecendo estar com episódios de ausência;
– Esquecer o que aprendeu em pouco tempo;
– Medo e desconforto ao ir pra escola (principalmente em dias de apresentação, trabalhos ou provas), chegando a ter febre, dor de barriga e outros sintomas físicos;
– Dificuldade de equilíbrio e/ou coordenação (abotoar roupas, andar de bicicleta, exercícios físicos, amarrar coisas);
– Má noção de espaço e tempo;
– Pertences constantemente perdidos e/ou esquecidos;
– Mudanças bruscas de humor;
– Dificuldade visual mesmo com exames oftalmológicos perfeitos;
– Tolera demais a dor (ou de menos);
– Pré-disposição a alergias e doenças infecciosas;
– Mesmo quando prevalece o uso de uma mão (canhoto ou destro) consegue realizar muitas tarefas com ambas as sem dificuldade. Algumas vezes são completamente ambidestros;
– Perfeccionismo;
– Pensa através de imagens e sentimentos (podendo utilizar muitas metáforas para se comunicar);
– Dificuldade de permanecer em ambientes barulhentos (ou considerados por eles assim), não conseguindo se concentrar e parecendo distraído;
– Sabe a sequência dos números, mas tem dificuldade em contar coisas concretas (dinheiro ou objetos);
– Precisa utilizar os dedos na contagem, utilizar truques ou calculadoras;
– Confundir “direita/esquerda, em cima /embaixo, para frente/ para trás;
– Pode fazer os deveres com extrema rapidez mas contendo muitos erros como se fizesse de “qualquer jeito”;
– Ou o contrário: levar um tempo muito maior que o esperado para realizar o dever;
– Não consegue ler enquanto escreve ou possui dificuldade para compreender o sentido do que está escrevendo;
– Letra difícil de ler, borrada ou não acompanhando a linha do caderno;
– Letra muito caprichada mas sentenças incompletas ao copiar;
– Fluência de leitura inadequada para a idade;
– Não consegue, ou evita, ler em voz alta;
– Quando realiza leitura em voz alta, a mesma é silabada. Parece que a pessoa está tentando adivinhar o que está escrito é há muita hesitação no tom;
– Algumas pessoas precisam ler em voz alta sozinhas, pois fica mais fácil de compreender o conteúdo quando ela se escuta;
– Dificuldade para organizar os meses do ano, arrumar o alfabeto e ler as horas (principalmente em relógios analógicos);
– Dificuldade no uso ou troca fonética (de som) de: o-u; p-t (ou b); b-v; s-ss-ç ; s-z; f-t; m-n; f-v; g-j; x-ch; x/ch- j; z-j; nh-lh-ch; ão-am; ão-ou; ou-on; au-ao; ai-ia; per-pre;
– Quando há semelhança na grafia, também pode haver confusão : b-d; d-p; b-q; d-q; n-u;
– Durante a leitura pode haver substituição de palavras por outras que tenham uma estrutura parecida, mesmo que os significados sejam diferentes (saltou/salvou) ou ler uma palavra mas usar seu sinônimo ou uma outra palavra que lembre aquela (automóvel/carro).
Orientação de Tratamento
Com tratamento adequado, uma criança disléxica aprende a utilizar recursos para amenizar e contornar as dificuldades causadas pelo transtorno. Se houver suspeita, busque ajuda de profissionais, como neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos. A abordagem tomada por estes profissionais, entretanto, não deve forçar a criança a aprender de maneira tradicional. Sob pressão, o disléxico tende a reforçar os sintomas da dislexia.
É muito importante que os pais compreendam que seus filhos podem ter mais dificuldades para realizar atividades escolares e sociais. Isto entretanto não os torna incapazes de realizá-las. Apenas precisam seguir por um outro caminho para chegar no mesmo fim. É necessário, portanto, que eles encontrem apoio familiar para que este caminho particular seja mais fácil de percorrer.
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Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).
Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro – Brasil
Telefone para contato: (21)98320-4159
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