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Cuidados Ortopédicos na Paralisia Cerebral









O diagnóstico de paralisia cerebral é muito preocupante para a família. Ao contrário do que muitos pensam, não há completa ausência das funções cerebrais, o cérebro não está paralisado – a nomenclatura que é inadequada.

Trata-se de uma lesão no cérebro imaturo. Geralmente em crianças prematuras, com baixo peso e que ao nascerem (por imaturidade pulmonar) não conseguem oxigenar adequadamente o sistema nervoso central. Frequentemente necessitam de internação prolongada em UTI neonatal.

Na maioria das vezes, as áreas envolvidas são predominantemente motoras, não havendo prejuízo na inteligência. É lógico que existem também aquelas com lesões graves no cérebro que repercute não só no controle dos movimentos, como também nas funções intelectuais. Existem exceções à regra, e nem toda criança prematura ou de baixo peso apresenta comprometimento motor durante o desenvolvimento.

A lesão cerebral é estática (não piora), porém, o envolvimento articular tende a piorar se não tratado devido à desproporção no crescimento entre ossos normais e músculos espásticos (situação em que os músculos ficam em constante contração, sem relaxamento adequado, tornando-se mais rígidos), crescendo mais lentamente e gerando deformidades articulares.

O que chama atenção inicial é o atraso no desenvolvimento motor (demora a rolar, não sustenta cabeça, por exemplo), além de ter rigidez nas articulações (músculos espásticos), o que pode ser observado na manipulação diária. Algumas apresentam dificuldade de alimentação, refluxo gástrico, alterações visuais e estrabismo. É neste momento que são encaminhadas para avaliação neurológica e o diagnóstico é estabelecido.

Meu filho é especial?

Será que vai andar?

São muitas as expectativas dos pais. Neste momento é fundamental iniciar o tratamento multidisciplinar com fisioterapia (motora, respiratória, terapia ocupacional, fono) junto com a ortopedia pediátrica. Isso deveria ser a rotina, mas na prática o que vemos é que, por uma série de dificuldades, muitas famílias não conseguem: ortopedista pediátrico capacitado para atendimento, acompanhamento, indicação de órteses adequadas, aplicação de Botox – quando indicado – e indicação cirúrgica no momento preciso.

COMEÇAM AS BARREIRAS

A ausência do ortopedista capacitado sobrecarrega o trabalho do fisioterapeuta que, muitas vezes, tem que fazer seu trabalho brilhantemente e ainda indicar órteses. Além disso, quando precisam de opinião médica capacitada, acabam ouvindo de ortopedistas generalistas, que não estão preparados para esta patologia e não se dedicam ao tratamento exclusivo de crianças. Não sabem fazer exame físico adequado de crianças espásticas e com isso, começa o conflito de opiniões: um fala uma coisa e o outro fala o oposto, deixando a família perdida e sem saber em quem confiar.

CUIDADOS ORTOPÉDICOS

Desde o início, é importante definir para a família o que é espasticidade e falar sobre o prognóstico do desempenho motor, classificando o grau de comprometimento motor.

O envolvimento é do corpo todo?

Só um lado do corpo é envolvido?

Embora o corpo todo seja envolvido, são os membros inferiores mais graves do que os superiores?

Avaliar o estágio do desenvolvimento motor e acompanhar a cada consulta. Monitorar o posicionamento das articulações, em especial quadris, pés e coluna vertebral, com exame físico e de imagem.

A cada consulta deve ser monitorado o grau de movimento das articulações, dando especial atenção aos quadris que, pelo desequilíbrio dos músculos, tendem ao deslocamento. Suspeitamos inicialmente pela limitação nos movimentos, algumas vezes dificultando a abertura das pernas para troca de fraldas. Joelhos que não esticam completamente, e pés que ficam fixos para baixo (na ponta), também são motivos de tratamento.

Naquelas que já iniciaram a marcha, as alterações serão analisadas, algumas vezes necessitando de exame conhecido como laboratório da marcha, onde através de gravação em imagem da criança caminhando, podemos definir os problemas e oferecer o melhor tratamento.

Promover proteção articular necessária com prescrição de órteses adequadas.

Indicar Botox para controle e relaxamento dos músculos mais envolvidos com protocolo de revisão semestral. Promover correção cirúrgica de deformidades em idades adequadas.

Para o pleno desenvolvimento motor, as crianças espásticas deverão ser submetidas à cirurgias ortopédicas em idades apropriadas. As correções de deformidades em quadris, joelhos e pés, muitas vezes com cirurgias combinadas onde alongamentos tendinosos e cirurgias ósseas são feitas no mesmo momento, sendo capazes de mudar a história natural, fazendo com que as crianças caminhem melhor e por maiores distâncias, tendo maior independência.

CUIDADO COM “AS ARMADILHAS”

O acompanhamento ortopédico é pontual. Deve iniciar logo que feito o diagnóstico e continuar regularmente por intervalos predeterminados. São os ortopedistas pediátricos que indicam as órteses adequadas, monitoram o posicionamento das articulações, indicam o momento para aplicação de Botox (para relaxamento dos músculos espásticos), assim prevenindo deformidades articulares e indicam os melhores momentos para a realização da cirurgia. O trabalho do fisioterapeuta é contínuo. A integração desses profissionais, “falando a mesma língua” é que leva ao bom tratamento.

Exijam isso dos profissionais, não sejam os intermediadores de opiniões, façam com que um profissional converse diretamente com o outro, isso vai determinar o melhor tratamento.

Não se contentem com os profissionais que definem a criança como cadeirante, sem prognóstico de marcha e que optam por não oferecer nenhum tratamento, sendo negligentes e permitindo que as deformidades piorem cada vez mais, comprometendo a qualidade de vida da criança e da família.

IMPORTANTE

Sempre invistam em seus filhos e as maiores dificuldades serão superadas. É muito gratificante para as famílias verem seus filhos se desenvolvendo, mesmo com algum atraso. Cada ganho, por menor que seja, é importante.

É recompensador poder ajudar e participar do trabalho para torná-los independentes para locomoção, comunicação e socialização. Melhorando a qualidade de vida dos nossos pequenos e dando-lhes independência.

Portanto, papais e mamães, não esqueçam: tenham total confiança em seus fisioterapeutas, eles são fundamentais. Mas tenham também ortopedista capacitado para o tratamento. Permitam que os profissionais se comuniquem, tirem suas dúvidas, percebam se as atitudes médicas estão sendo coerentes. No final, a beneficiada será a criança que tanto queremos ajudar.




Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.

Consultório: Barra Life

Av. Armando Lombardi, 1000 – sala 231, bloco 2, Barra da Tijuca | Rio de Janeiro

Telefone para contato: 3264-2232/ 3264-2239



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