Apesar de todos os esforços na divulgação dos métodos de diagnóstico precoce que permitam o tratamento adequado desta patologia, ainda nos deparamos com situações de crianças, já na fase de marcha e ainda com seus quadris sem tratamento.
Os motivos pelos quais isso ainda ocorre no Brasil, são diversos, tais como a ineficiência da saúde pública em oferecer centros com profissionais capacitados para o tratamento da luxação congênita do quadril, dificuldade de acesso da população ao sistema público de saúde e, até mesmo, negligência e abandono da criança pelos próprios cuidadores. Uma triste realidade social da nossa população.
O diagnóstico tardio desta patologia implica em maior complexidade para o tratamento, com maiores riscos e tempo prolongado de imobilização para a correção do quadril.
Quando falamos de crianças já caminhando com seus quadris deslocados, estamos nos referindo à marcha extremamente ineficiente, mancando grosseiramente e com importante limitação nos movimentos do quadril luxado.
Estamos falando também de correção cirúrgica de grande porte para uma criança, com possibilidade de maiores perdas sanguíneas, acesso cirúrgicos amplos, muitas vezes necessitando assim, de cirurgias ósseas associadas para a obtenção do resultado esperado.
Os custos para o tratamento são altos, tempo de internação prolongado e a ocupação de leito hospitalar longa.
Tudo isso aumenta a morbidade do procedimento e os riscos de complicações também.
O objetivo do tratamento é posicionar a cabeça femoral no seu local anatômico, conhecido como acetábulo.
É preciso que, uma vez posicionado adequadamente, fique estável e sem a possibilidade de sair novamente da sua posição.
Além disso, o quadril precisa preservar sua mobilidade e as estruturas ósseas precisam ter desenvolvimento adequado que garanta a sobrevida articular em longo prazo.
A marcha precisa ser melhorada e os quadris não apresentarem dor.
O período pós-operatório:
É feito com aparelho gessado imobilizando toda a região operada, ou seja, vai desde a região acima do quadril até o pé, conhecido com gesso pelvipodálico.
Tem uma abertura no períneo que permite evacuação e micção.
As pernas são imobilizadas e mantidas afastadas através de uma barra, unindo o gesso.
É fundamental o entendimento por parte dos cuidadores com a manutenção da higiene do períneo, as trocas de fraldas a intervalos regulares que impeçam a contaminação das feridas operatórias, além de manter a integridade do gesso, durante todo o período do tratamento.
Comunicação frequente entre os cuidadores e a equipe cirúrgica responsável também é fundamental para a boa evolução.
Acompanhamento de perto, com consultas regulares para inspeção do gesso, feridas operatórias e exames de imagem analisando a manutenção da correção articular.
A segunda etapa pós-operatória:
Após o período inicial com o gesso pelvipodálico, a criança precisa ser examinada sob anestesia e no centro cirúrgico, para que sejam feitos exames radiológicos confirmando a manutenção da posição articular e a troca do gesso, que passa a ser em dupla abdução. Dessa forma, só imobiliza as pernas (da coxa até os pés), mantendo a barra de união entre os gessos mas permitindo à criança os movimentos de sentar e deitar (flexão e extensão), sem o risco do quadril perder a posição.
As possíveis complicações
Devem ser reconhecidas e tratadas imediatamente:
– Infecção da ferida operatória deve ser drenado no centro cirúrgico e terapia antibiótica endovenosa instituída;
– Perda da posição do quadril deve ser tratado com manipulação e troca do aparelho gessado ou até mesmo nova cirurgia se for necessário;
– Necrose da cabeça do fêmur é um problema desafiador, de difícil solução e que, geralmente, cursa com encurtamento do membro inferior, rigidez articular e dor;
– Displasia do acetábulo, ou seja, a incapacidade do osso que cobre a cabeça femoral em desenvolver-se adequadamente é um problema que exige cirurgia complementar, pois a persistência levará à artrose do quadril.
Luxação congênita do quadril deve ser diagnosticada na criança recém-nascida.
O tratamento precoce é simples, com baixa morbidade e com ótimos resultados.
Tratamento tardio é desafiador, com cirurgias de grande porte e internação prolongada, uso de aparelho gessado por longo período e maiores riscos de complicações.
Um abraço a todos!
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
Consultório: Barra Life
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