Conhecendo a Estereotipia no Autismo
Nosso cérebro ¨foi feito” para funcionar se concentrando em uma atividade por vez. Quando você abre esse site, por exemplo, seu foco de atividade passará a ser ler este texto. Para isso acontecer, você deixa todas as outras atividades de fundo. A TV passa a ser apenas um som ambiente e as palavras que são apresentadas na tela do computador passam a ser sua figura principal de atenção.
“Mas eu consigo ler e ver tv ao mesmo tempo”. Sim, embora sua atenção não vá estar plena em nenhuma das duas atividades, seu cérebro estará funcionando em um esquema “figura-fundo” que permitirá você dividir sua atenção entre dois focos alternadamente: hora ele vai estar colocando a tv como figura e se desligando da atividade de ler, hora ele estará colocando a leitura como foco e se desligando da tv.
Quando estamos estressados, por exemplo, nosso cérebro já não realiza tão bem essa atividade. Você tentará se concentrar no texto, mas ficará lembrando que tem comida pra fazer, problema de trabalho para resolver e seu cérebro ficará hiper estimulado, cansado, funcionando no modo “automático”, sem finalizar os ciclos de pensamento e atividades adequadamente. Este excesso de atividades sendo realizadas ao mesmo tempo nos leva a pensar no cérebro da pessoa com transtorno do espectro autista (TEA).
Uma criança autista pode ter tanto potencial para se desenvolver tanto quanto uma criança típica. Entretanto, ao invés de seguir um caminho padrão, seu cérebro precisará de outros estímulos para funcionar.
Desde cedo criamos padrões de funcionamentos para agir com o mundo. Uma criança típica quando está com medo busca o olhar de seus pais para se confortar e saber que está tudo bem, por exemplo. Uma criança com TEA pode buscar comportamentos de auto-regulação, mais conhecidos como “estereotipias”, para se confortar. Agitação de mão, balanceio de corpo, palavras repetidas aleatoriamente, girar objetos ou girar o próprio corpo, são alguns exemplos.
Isso acontece devido a um funcionamento diferente do cérebro. O cérebro da criança autista tende a não se desligar na alternância de atividades como fazem os nossos. É como se algumas crianças autistas funcionassem sempre hiper estimuladas (o cérebro ser hiperestimulado não significa que a criança é agitada).
As estereotipias entram com a função de descarregar este cérebro hiper estimulado. Com estes comportamentos, as crianças autistas liberam grande quantidade informações que se acumulam em suas cabecinhas. Desta maneira, conseguem se regular e continuar funcionando dentro do seu padrão.
Quando bloqueamos tais comportamentos repetitivos, fazemos com que a criança volte a perceber os estímulos ameaçadores para ela. No exemplo que citei anteriormente que falava sobre o medo: uma criança autista nem sempre vai entender que se seus pais olharem para ela com compaixão e lhe derem um abraço, significa que está tudo bem e que ela pode parar de ter medo. A criança autista pode, naquele momento, sentir a necessidade de agitar o seu corpinho e não sentirá a falta de um abraço de contenção. Caso este movimento seja interrompido, a sensação de medo será reforçada e ela pode se desestruturar completamente.
Devido a isso, é muito importante que possamos entender, minimamente, o que se passa com as crianças para que esse comportamento se apresente e quais são os estímulos adequados que podemos oferecer para substituir os tidos como inadequados.
Daremos início a uma breve explicação sobre o que são as estereotipias, como elas agem e o que deve ser feito, para que você fique mais familiarizado com o tema. Por ser um assunto muito vasto, publicaremos diversos textos sobre o tema. Inscreva-se na nossa newsletter para ser avisado.
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Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).
Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro – Brasil
Telefone para contato: (21)98320-4159
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