O desfralde é um dos momentos mais esperados pelos pais, não só por ser um marco no desenvolvimento de sua criança, como também pelo alívio financeiro e de rotina.
É necessário que a criança tenha as condições de entender o processo, assim ela terá chance de ser desfraldada sem que isso a cause transtornos emocionais, psicológicos e até clínicos. Crianças e adultos com prisão de ventre, infecção urinária recorrente, podem ter tido o início desses quadros na ansiedade dos pais, cuidadores ou da escola na retirada das fraldas.
Realizar a transição da fralda para o peniquinho ou redutor no vaso sanitário é uma tarefa trabalhosa sim, não podemos negar. Haverá muitas roupas a serem lavadas e muitos sofás com cheirinho de xixi. Isso tudo cansa, estressa e existirão momentos em que você sentirá vontade de perder a cabeça. O que é compreensível, não se sinta um péssimo pai ou mãe por ter esse sentimento. Colocar-se no lugar delas às vezes ajuda a acalmar os ânimos nesse “mar de xixi”. Por isso, além de dicas de como facilitar esse momento, vou explicar o “lado da criança” no desfralde, pois, se para os pais esse momento é estressante, é também para a criança. Algumas vezes até mais.
“O que é isso que sai de mim?”
Você já parou para pensar que assim que nascemos uma fralda é colocada em nós? E que quando um bebê começa a se perceber a ter consciência de si aquela fralda está nele como pertencente a seu corpo?
Um bebê percebe, por muito tempo, aquela fralda como um pedaço seu. De repente aquilo é compreendido como algo que não é mais parte do corpo pois vai e volta. Em determinado momento essa percepção se estende a entender que algo é produzido por ela. Sai algo de dentro dela, molhado, quente ou pastoso, com um odor característico e que essas coisas fazem a mamãe e o papai virem até ela e mexerem naquilo, que até então era um pedaço seu. Mas aí começam a dizer para ela que aquilo que ela produz, aquilo que ela oferta aos pais, é “ruim”. Que ela tem que jogar aquilo fora. Tem que despejar aquilo em um recipiente frio, enorme, que suga o que sai dela e faz desaparecer.
Vamos combinar que pode ser extremamente confuso e assustador para um serzinho que ainda não tem um cognitivo elaborado e preparado para entender o mundo logicamente como nós, entender todo esse processo. Coloque-se no lugar dele. Imagine a si mesmo percebendo a existência do seu xixi e do seu cocô. Imagine-se ganhando uma bronca por fazer algo que, antes, fazia o papai e a mamãe te fazerem carinho (pois a criança pode sentir o limpar, passar o lenço umedecido, como uma forma de carinho), se imagine passando por tudo que a sua criança passou ou vai passar. É tudo muito novo e algumas vezes assustador. Amadurecer é como chegar numa terra totalmente nova e ter que se adequar a hábitos que são ditados.
Sabendo agora das angústias que podem envolver o desfralde para uma criança, já podemos passar para o processo prático de como desfraldar.
No próximo texto falarei sobre como saber o momento certo de desfraldar a criança.
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Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).
Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro – Brasil
Telefone para contato: (21)98320-4159
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